domingo, 25 de maio de 2008

KIERKGAARD: PERSPECTIVA RELIGIOSA SOBRE O SENTIDO DA EXISTÊNCIA - O estado estético

(Salvador Dali)


O homem estético orienta a sua vida pelo “princípio do prazer”, isto é, pela procura do prazer, do que é agradável aos sentidos. O modelo do homem estético é o sedutor, o Don Juan, mas, embora o prazer da conquista e do gozo sexual seja o mais intenso e o mais procurado, a vida estética pode também consistir na entrega a fins temporais como o poder e o dinheiro.

O que há de comum entre os diversos indivíduos com preocupações diferentes para que consideremos que adoptam uma forma de vida estética?
Vivem para o momento imediato, para o instante que passa e, identificando a repetição com o aborrecimento, rejeitam voltar a fazer a mesma coisa. O homem estético é dominado pela imaginação e pela fantasia: sonha com estados de alma sempre novos, desejando que cada experiência agradável seja uma absoluta novidade. Para ele, a arte de viver consiste em escapar à monotonia do “já visto”. Esta obsessão pela novidade, pela diferença, implica uma mudança constante e a negação de qualquer compromisso ou fidelidade, seja a uma mulher seja a um ideal social e político. Tudo isto, mais instituições como o casamento, a família e uma ocupação profissional rotineira, são insuportáveis, impõem restrições, reprimindo a procura do prazer.

Este amor à novidade tem o seu reverso: a satisfação do prazer em determinado caso é sempre seguida de insatisfação. A dinâmica infinita do desejo, o querer que seja sempre mais intenso, transforma cada desejo satisfeito em melancolia e aspiração a nova experiência satisfatória. Múltiplas experiências, dispersão na procura do prazer e permanente insatisfação com o prazer atingido. O sedutor Don Juan, que termina no desespero e na perdição. À medida que o homem que assim vive se torna consciente da futilidade e inconsistência da sua vida e deixa de valorizar uma existência determinada pelas inclinações e caprichos sensoriais, o desespero instala-se.

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